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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Haiti primeiro país do mundo a ser governado por negros libertos da escravidão












Batalha em San Domingo entre tropas polonesas a serviço da França e os rebeldes do Haiti / Crédito: January Suchodolski

O dia 14 de agosto é comemorado como o estopim de uma das mais importantes revoltas do século 19, contra a França (incluindo a de Napoleão). O movimento ocorreu em plena América Central, começando nas portas do século que marcaria o período de independências latino-americanas.

Trata-se da Revolução de São Domingos, ou Revolução Haitiana, a maior revolta bem-sucedida de escravizados no mundo colonial. A data marca o momento em que Dutty Boukman convocou o levante em uma cerimônia religiosa.

É importante relatar que o Caribe foi, nos séculos anteriores, o grande centro econômico e produtivo do mundo. O tráfico de escravos e a produção de produtos primários na região, colonizada principalmente por espanhóis e franceses, ocorria em grande escala. O caso da colônia francesa de Saint-Domingues, ao lado da ilha corsária de Tortuga, era um desses polos mercantis.


A colonização do Haiti começou com um massacre. Diferentemente do continente, a entrada europeia no Caribe resultou na extinção total das comunidades originárias de lá, o que impulsionou desde cedo a integração do Haiti no Tráfico Atlântico de escravos. Com a gradativa implantação do sistema latifundiário monocultor na ilha, ela foi rapidamente ocupada por africanos e afrodescendentes subjugados economicamente.

Toussaint Louverture, líder militar da Revolução / Crédito: Wikimedia Commons


No caso do Haiti, trata-se de um cenário de extrema violência dos franceses contra os escravizados. A minoria de brancos era conhecida por seu tratamento sádico e agressivo contra os trabalhadores no campo. Essa violência fez ebulir, pelo século 18, diversas rebeliões nas fazendas que, cumulativamente, estimularam a explosão de uma revolta generalizada contra os franceses em 1791.

No dia 14, em Bois Caïman, o sacerdote vodu e líder quilombola Dutty Boukman profetizou a liderança de um levante libertador entre os escravos. Fato é que a Revolução teve inicio naquele ano e, em poucos dias, mais de 100 mil escravos se levantaram e tomaram a Província do Norte, liderados por Toussaint Louverture.

A Revolução de São Domingos ficou marcada pela violência contra os donos de escravos. Com o sentimento de vingança aflorado, os escravizados, em sua rápida tomada da ilha, pilhou, torturou, mutilou, estuprou e matou seus senhores sem dó. Mesmo que os brancos estivessem armados – pois já esperavam uma revolta – as proporções do levante impossibilitaram qualquer vitória dos colonizadores.


Em 1792, o sucesso do levante, ainda em curso, criou um clima de emergência na França. Desesperados, os revolucionários franceses convocaram uma Assembleia Legislativa que, no intuito de desacelerar a independência da ilha, concedeu direitos aos negros livres haitianos (o que chocou o mundo) e mandou 6.000 soldados para conter o levante. No entanto, os haitianos não se renderam e, em 1794, foi abolida a escravidão nas colônias francesas, por pura pressão.

Quando Napoleão assumiu como Imperador francês, houve uma breve reviravolta, em que as tropas nacionais enviadas à ilha conseguiram retomar o controle colonial de São Domingos. A escravidão retornou, por ordem do Imperador ao general Charles LeClerc. Louverture foi preso e mandado à França, onde morreu um ano depois.

Com a prisão de Louverture, Jean-Jacques Dessalines assumiu o comando da Revolução e conseguiu reverter o quadro de restauração da colônia. Ao derrotar as tropas francesas em 1803, abriu espaço para a declaração da independência da ilha no começo do ano seguinte. O país declarou oficialmente o fim da escravidão e foi batizado de Haiti, em homenagem aos indígenas exterminados com a ocupação europeia.


Imagens como essa permearam os medos dos escravistas no século 19 / Crédito: Wikimedia Commons

O Haiti é o único país da América Latina que conquistou independência com uma revolta vinda de baixo, por escravos subjugados. O país possuía potencial, porém foi submetido a sanções e artifícios bancários por parte da França, que exigiu uma série de reparações aos proprietários expropriados que se reverteram em dívidas gigantescas, contrapartida para que o país europeu reconhecesse a independência do Haiti (que seria comandado por uma elite criolla a partir de então). Esse fato destruiu a economia e a infraestrutura local, fazendo com que o país seja, hoje, o mais pobre da América.

Ao mesmo tempo, a Revolução Haitiana foi um evento que abalou para sempre a estrutura política e econômica do continente. Em diversos países, incluindo o Brasil, criou-se o medo de que a ordem escravista pudesse ser destruída por uma nova revolta de escravos inspirada nos heróis de São Domingos.


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