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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Acidente: Israel pode ter iniciado a colonização na Lua através da sonda israelita Beresheet



Acidente: Israel pode ter iniciado a colonização na Lua sem querer?



Muitas informações sobre a Terra, DNA humano e tardígrados desidratados podem estar espalhados pela superfície lunar depois que a sonda israelita Beresheet se tornou o primeiro lander privado a pousar no satélite – ou melhor, a colidir com ele.

Esses objetos faziam parte de uma espécie de “biblioteca lunar” compilada pela organização sem fins lucrativos Arch Mission Foundation, cujo objetivo é criar múltiplos repositórios de conhecimento humano ao redor do sistema solar.

De acordo com um dos fundadores da Arch Mission, Nova Spivack, embora eles soubessem dos riscos da missão, quando ouviram que a sonda não tinha pousado, mas sim caído e se destruído no impacto com a Lua, “pelas primeiras 24 horas, ficamos em choque”.


Espalhando arquivos pelo espaço

Essa não é a primeira vez que a Arch Mission Foundation envia algo para o espaço: em 2018, a organização colocou um arquivo no porta-luvas do Tesla de Elon Musk, atualmente em uma órbita de 30 milhões de anos ao redor do sol. Esse arquivo engloba a trilogia “Fundação” de Isaac Asimov inscrita em um disco de quartzo que utiliza uma tecnologia ótica experimental 5D.

A sonda israelita, por sua vez, carregava um objeto do tamanho de um DVD contendo 30 milhões de páginas de informação, incluindo amostras de DNA humano e milhares de tardígrados, também chamados de ursos-d’água, em estado dormente. Após se recuperar da surpresa, a equipe da Arch Mission Foundation fez uma análise das possibilidades de sobrevivência dessa biblioteca.

Como a “biblioteca” funciona

O meio de armazenamento usado no arquivo enviado pelo Tesla tem limitações. Embora tecnologias digitais possam compactar muitas informações em um espaço pequeno, duram muito pouco. Logo, se a ideia é criar uma biblioteca que possa ser útil milhares ou milhões de anos no futuro, a melhor aposta é mantê-la analógica. Ao mesmo tempo, é preciso dar um jeito de tornar esse armazenamento analógico compacto.


Uma cópia da primeira camada da biblioteca lunar no módulo lunar Beresheet. A biblioteca lunar real tem a imagem do centro revomível. 

É aqui que entra o cientista Bruce Ha, que inventou uma técnica para gravar imagens de alta resolução em nanoescala em níquel. Lasers são utilizados para gravar a imagem, que em seguida recebe camadas de níquel, átomo por átomo. O resultado parece holográfico e pode ser visualizado com um microscópio com uma capacidade de ampliação de cerca de mil vezes, algo que já existe.



A biblioteca da Beresheet leva 25 camadas de níquel com cerca de alguns mícrones de grossura. A primeira camada é composta de 30.000 imagens de páginas de livros, incluindo chaves para decodificar as outras 21 camadas, que por sua vez contêm quase toda a Wikipédia em inglês, milhares de obras clássicas e até os segredos por trás dos truques de mágica de David Copperfield.


DNA e tardígrados

A decisão de incluir amostras de DNA nesta biblioteca foi de último minuto, mas pode ter sido o que a salvou no impacto com a Lua. A Arch Mission Foundation depositou uma camada fina de resina epóxi entre cada camada de níquel contendo folículos pilosos e amostras de sangue de Spivack e de 24 outros membros da equipe, uma amostra genética diversa. Foram ainda acrescentados na resina tardígrados desidratados e amostras de locais sagrados, como a árvore de Bodhi na Índia.

Por fim, milhares de tardígrados desidratados foram espalhados na fita usada para fixar a biblioteca lunar ao módulo de aterrissagem da Beresheet. Esse animal foi escolhido porque é capaz de ser reavivado depois de passar muito tempo dormente – cientistas já reidrataram ursos d’água com sucesso depois de um período de dez anos. Eles também são conhecidos por sobreviver a condições difíceis como as do espaço.

De acordo com Spivack, as camadas de resina podem ter dado mais resistência à biblioteca, tornando-a menos propensa a se quebrar no impacto com o satélite. Além disso, o calor da queda não é suficiente para derreter o níquel, coberto por uma camada protetora contra radiação.

Melhor cenário

No melhor dos casos, a Beresheet conseguiu ejetar a biblioteca da Arch Mission Foundation com sucesso e ela está descansando em algum canto da Lua agora, intacta. Se o DNA e os tardígrados estão bem, é outra história. Não há maneira alguma de descobrir isso por hora.

Não é preciso temer que a missão crie alguma vida estranha ou monstruosa na Lua, no entanto. Essa biblioteca não é a primeira a derrubar DNA no nosso satélite – 100 sacos de cocô das missões Apollo levam esse crédito. E tardígrados precisam retornar a um ambiente com atmosfera para serem reidratados.

Por fim, esse tipo de coisa é totalmente legal. Se a biblioteca tivesse como destino Marte, possível “acampamento humano” um dia, o debate seria maior. No caso da Lua, que não é considerada uma “Terra B” potencial para humanos, é possível utilizá-la para estudar condições espaciais e para armazenar informações com mais tranquilidade.

Herança humana

No futuro, a Arch Mission Foundation planeja lançar uma campanha para coletar DNA de voluntários e espécies em perigo de extinção para enviar à Lua dentro de um armazenamento sintético, capaz de suportar terabytes de informação em um pequeno frasco líquido.

Essa nova biblioteca provavelmente pegará uma carona com a Astrobotic, empresa fundada para competir no Google Lunar X Prize em 2021 – um concurso internacional organizado pela X PRIZE Foundation e patrocinado pelo Google cujo objetivo é a colocação de um rover no solo lunar com no mínimo 90% de investimento privado. 

“Nosso trabalho, como o backup rígido deste planeta, é garantir que protegemos nossa herança – tanto nosso conhecimento quanto nossa biologia”, afirma Spivack. “Temos que planejar para o pior”.


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