Abydos era uma das mais importantes cidades do Antigo Egito,
situada a 11 quilômetros a oeste do Rio Nilo, na latitude 26º 10' N, na região
do Alto Egito. Seu nome original é Abdju, sendo esta a referência encontrada
nos próprios sítios arqueológicos locais. Foram os gregos que mais tarde
denominaram o local como Abydos, nome pelo qual é conhecido atualmente.
Esta região começou a ser utilizada a partir de 3 mil anos
antes de Cristo, com a fundação de vários templos e túmulos de Faraós da 1ª
Dinastia. Posteriormente outros templos foram construídos no local, sendo os
mais importantes o Grande Templo de Osiris, o Templo de Seti I e o Templo de
Ramsses II. Também destaca-se a Tumba de Umm el-Qa'ab, que era uma necrópole da
realeza egípcia, onde vários faraós foram sepultados. A região continuou sendo
utilizada até a 30ª Dinastia, por volta de 380 d. C
Segredos milenares
A região de Abydos é famosa por um conjunto de imagens
existente no Templo de Seti I, que segundo interpretações de alguns esotéricos
e ufólogos, seriam representações claras de artefatos tecnológicos atuais que
não estavam disponíveis na época em que foram ali desenhados. Em sua maioria,
os artigos referentes à este polêmico conjunto vêem ilustrados por esta imagem:
As Figuras do Templo de Abydos, usualmente encontrados em livros, revistas, documentários e sites sobre Ufoarqueologia
Nela, observa-se claramente a existência de um desenho que
lembra um helicóptero de guerra Apache. Um outro desenho lembra um avião
estilizado, e um terceiro lembra um tanque de guerra, ou submarino. Segundo
alguns estudiosos, esta imagem seria a prova de que os antigos egípcios teriam
tido acesso à algum tipo de alta tecnologia, de origem extraterrestre, que
entre outras coisas teria possibilitado a construção das pirâmides, além de
alguns outros grandes feitos, difíceis ou impossíveis para a época.
Detalhe da figura identificada como "O Helicótero" e uma comparação com o helicóptero de guerra americano Apache
Para alguns
pesquisadores mais afoitos, esta seria uma prova a favor da Teoria dos Deuses
Astronautas que diz que os deuses do passado seriam na verdade ufonautas que
teriam auxiliado a raça humana ao longo de sua evolução. Alguns pesquisadores
vão mais além afirmando que a própria Humanidade teria sido plantada neste
planeta por seres extraterrestres.
Independente de esta teoria ser válida ou não, desenvolvemos
nossa investigação apenas no polêmico conjunto de imagens de Abydos. Segundo
alguns pesquisadores, estas imagens seriam originadas a partir de um processo
de sobreposição de hieróglifos, num processo chamado Palimpsesto. Esta hipótese
circula em meios acadêmicos como sendo a explicação para a origem destas
imagens, embora não exista um estudo completo e específico disponível a
respeito confirmando ou descartando definitivamente esta possibilidade.
A priori, têm-se a impressão que a imagem está bem
focalizada e que os desenhos estão impressos em alto relevo, ou seja, que as
imagens sobressaem-se da parede em alguns milímetros. Para que uma análise
adequada pudesse ser realizada foi necessário buscar imagens de melhor
qualidade do referido local, bem como informações que nos auxiliassem em um
estudo aprofundado da figura. Para isso recorremos à sites especializados em
Egiptologia e em fotografias, geralmente obtidas por turistas e fotógrafos
amadores não ligados à área ufológica. Isso permitiu-nos encontrar imagens com
outros ângulos, com e sem uso de flash, e em variadas resoluções, não só da
imagem de Abydos, como também de outros hieróglifos que pudemos usar como
comparação.
Para entender melhor as informações que serão apresentadas
logo adiante precisamos entender alguns aspectos sobre a história e a cultura
do Antigo Egito. Talvez a mais essencial destas informações seja relativo à
conhecimentos sobre as várias formas de escrita utilizadas ao longo de sua
história. A mais conhecida destas escritas é a Hieroglífica, a escrita
simbológica sagrada, quase sempre restrita à sacerdotes, escribas e membros da
realeza egípcia. Além da Hieroglífica, havia a escrita Hierática, utilizada pelos
escribas na confecção de papiros. Esta era uma forma simplificada dos
hieróglifos geralmente utilizada nos registros administrativos em rolos de
papiro. Havia também o Copta, que na verdade foi uma das primeiras linguagens
utilizadas popularmente pelo povo em seu dia a dia. Mais tarde, por volta de
600 a. C., a linguagem demótica, que era uma forma idiomática ainda mais
simplificada, tornou-se a mais popular.
Outra informação importante que devemos ter em mente antes
de prosseguir é a forma de registro adotado pelos egípcios que em geral era em
alto relevo ou através de sulcos esculpidos diretamente na parede, ou na rocha.
O alto relevo é mais comum em figuras representativas, que eram utilizadas para
representar cenas do dia-a-dia, rituais, imagens de deuses, guerras,
acontecimentos importantes, etc. Já a escrita hieroglífica era mais comum ser
representada através de sulcos em paredes de templos, obeliscos e monumentos.
Em geral, seres vivos
eram representados, tanto em hieróglifos quanto em figuras representativas, de
lado ou em perfil, sendo esse o padrão encontrado em todo o Antigo Egito. No
caso da imagem de Abydos, a imagem foi criada em sulcos, sendo este o primeiro
indício de que a figura seja realmente formada por hieróglifos, ao invés de uma
figura representativa ou profética.
Composição da imagem
A imagem de Abydos é
composta por várias figuras sendo que o que é comumente apresentado em sites e
livros de Ufologia e esoterismo é apenas uma parte dela. A figura completa, que
pode ser observada abaixo, apresenta um símbolo inicial à esquerda (1) que
indica o nome do faraó, sendo geralmente seguido por um ou dois títulos
(representado em 2). Logo em seguida, temos a parte mais polêmica. O primeiro
conjunto (3) é formado pelo desenho do helicóptero, posicionado na parte
superior e abaixo dele um conjunto de caracteres sem uma identificação clara.
Na imagem mais famosa e difundida, percebe-se uma mancha indefinida, um pouco
abaixo do helicóptero, que passa despercebida da maioria das pessoas. Devido à qualidade
da imagem não é possível identificar a real natureza dessa parte do conjunto
que só torna-se claro quando observado a partir de outras fotografias. Trata-se
de uma ave, que se sobrepõem ao que seria o bico do hipotético helicóptero.
Mais a frente comentaremos este detalhe e suas implicações neste caso. Por fim,
à direta deste, temos as outras três figuras polêmicas que lembram um submarino
ou tanque de guerra, um avião e um planador.
Comparações
Sendo o conjunto 1 e 2 comprovadamente formados por
hieróglifos é de se esperar que o conjunto 3 e 4 também seja. Para confirmar
essa possibilidade utilizamos como base a Lista de Sinais de Gardiner, que é
uma forma de classificação de hieróglifos reconhecida internacionalmente. Esta
listagem, que pode ser consultada no seguinte endereço:http://www.ancientegyptonline.co.uk/Gardiner-sign-list.html,
cataloga 300 dos mais de 900 caracteres conhecidos. A forma de classificação é
bem simples, separando-os por categorias específicas, como representações de
partes corporais, animais, natureza, etc.
Em uma rápida consulta à listagem é possível identificar
variados caracteres que sobrepostos poderiam reproduzir o Conjunto de Abydos.
Após separar estes caracteres fizemos combinações entre eles, reproduzindo uma
a uma as figuras presentes nas fotografias. A partir da listagem todas as
figuras foram reproduzidas com êxito comprovando a hipótese de Palimpsesto.
Apenas no caso do "helicóptero" um caractere adicional foi utilizado.
Vejamos então como ocorreu estas sobreposições individualmente e posteriormente
em conjunto:
O Tanque/submarino
Esta figura, uma das
mais interessantes do conjunto, é associada por alguns à um tanque de guerra.
Para outros representaria um submarino. No entanto, uma análise a partir de
fotografias de boa qualidade, revelam detalhes não compatíveis com estes
veículos: sulcos horizontais do centro para a direita da figura, como se fosse
a palma de uma mão aberta. Quando consultamos a listagem de Gardiner
encontramos um hieróglifo representado justamente por uma palma de mão aberta.
No entanto, este caractere, identificado como D46, por Gardiner, não reproduz a
totalidade da figura. A parte superior do desenho, que prolonga-se e
assemelha-se à uma torre de um tanque de guerra (daí a similaridade) era
produzida por algum tipo de figura composta por linhas retas e finas, curvada
em um dos lados. O caractere que se enquadra nesse aspecto é identificado na
listagem como Aa26 e quando sobreposto reproduziu com perfeição a polêmica
imagem.
Outra imagem bastante
conhecida do conjunto é a figura do avião. Sua forma realmente lembra uma
aeronave militar. A identificação dos caracteres que compõem esta figura foi um
pouco mais complicada, pois desta vez não foram dois, mas três hieróglifos
sobrepostos. Após uma série de combinações identificamos os caracteres D21, V31
e D36 e com eles pudemos reproduzir plenamente a figura.
O Hieróglifo original
desta figura é o D21, que foi inserido na etapa inicial da formação da figura,
representado em preto. Quando houve a sobreposição de escrita, foram inseridos
dois
Outra figura polêmica
é o chamado Planador, embora apresente um corpo principal, um leme vertical e
não exista indícios de asas. Esta figura é facilmente identificável devido à
sua simplicidade. O caractere principal identificado na figura é o D44, que
compõem o que seria o corpo principal da aeronave. Acima dele é perfeitamente
identificável o caractere classificado pro Gardiner como I6 e dois outros
caracteres parcialmente sobrepostos ao principal, posteriormente identificados
como O49 e X1.
Outras figuras
As outras figuras
presentes na imagem de Abydos também são geradas por palimpsesto. Abaixo do
helicóptero existe um conjunto de imagens composta de pequenos retângulos na
vertical, com prolongações triangulares, sem um sentido lógico. Esta figura
também surgiu a partir da junção de dois tipos de caracteres específicos
identificados como Z2 e N25. Confira no quadro abaixo como ocorreu essa
sobreposição:
O
"Helicóptero"
O Helicóptero é o
símbolo mais famoso do conjunto de Abydos devido à sua inquestionável
semelhança com o helicóptero de guerra americano Apache. Céticos, em sua pressa
na interminável luta por desmistificar todo e qualquer fato associado à
Ufologia, costumam citar que existe ausência de rotor traseiro, ou seja, que um
helicóptero de verdade apresentaria aquelas duas pequenas hélices no leme
traseiro para dar sustentação à aeronave. Sem elas, um helicóptero apenas
giraria no ar e não sairia do lugar. Não deixam de estar certos, embora não
aprofundem a pesquisa buscando a verdade em relação aos fatos e apresentando os
resultados, como estamos fazendo aqui.
Na investigação em torno desta figura selecionamos, a partir
da lista de Gardiner, quase uma dúzia de caracteres para testes de
sobreposição. Destes, três caracteres reproduziram parte da figura, restando
identificar o caractere que compunha a hélice. Foi necessário uma busca geral
em conjuntos de hieróglifos que não compunham a listagem de Gardiner e que se enquadrassem
na figura. Nesta busca, descobrimos uma imagem, obtida no próprio templo de
Abydos que confirmou nossas suspeitas e identificou o caractere desconhecido,
que identificamos aqui como "caractere X". Esta nova imagem apresenta
todos os caracteres originais, impressos na primeira fase de composição da
imagem. Tal conjunto é uma identificação do Faraó Seti I, usado possivelmente
para identificá-lo como construtor do templo, ou como personagem de algum
relato ali inscrito.
Figura semelhante ao palimpsesto de Abydos, encontrada no Templo de Seti I
Através dessa imagem
foi possível identificar, não só nesta, mas em todas as outras do conjunto,
todos os caracteres iniciais, impressos a mando do Faraó Seti I. De posse desta
imagem e dos símbolos sobrepostos posteriormente não foi difícil encontrar uma
outra identificação, desta vez do Faraó Ramssés, seu filho. Este novo conjunto
de sinais indica que Seti I morreu durante a construção do templo, sendo que
seu filho, Ramssés continuou a obra imprimindo sua própria marca a partir de
então. A imagem de Abydos foi resultado de Palimpsesto envolvendo estes dois
conjuntos, talvez para identificar o ponto onde houve a transição de um faraó
para outro.
Vejamos então como ocorreu este processo que deu origem à
imagem do "Helicóptero de Abydos":
Imagem formada pela união das figuras
As figuras iniciais do conjunto são o "caractere
X" e o caractere X1 (apresentados em 1). No processo de sobreposição foram
inseridos os caracteres D38 e G45 (representados em 2), dando o formato final à
figura (representado em 3).
O templo começou a ser edificado por volta de 1270 a.C.,
pelo Faraó Seti I. Com a morte de Seti, em 1279 a.C. a tarefa foi continuada
por seu filho, Ramssés II, que assumiu o trono. Era um costume antigo, cada
Faraó imprimir sua marca em cada obra por eles realizada. Sendo assim, no
início da construção do templo, a marca de Seti foi impressa em variados
lugares para identificá-lo como construtor do templo. Mais tarde, com a morte
deste, Ramssés continuou a obra imprimindo sua própria marca. No quadro abaixo
podemos verificar a marca de Seti I e a de Ramssés II:
Criando um Mito
Como vimos de fato existiu sobreposição de hieróglifos no
conjunto de imagens de Abydos. Mas o que poderia ter influenciado na
repercussão desta imagem no meio esotérico e ufológico? Existem vários fatores
atuando direta ou indiretamente na repercussão da imagem.
O primeiro deles é o uso de uma imagem ligeiramente
desfocada e de baixa qualidade para a divulgação da figura. Devido às
características desta fotografias, detalhes importantes da figura ficaram
apagados, e certos detalhes foram realçados fortalecendo a idéia de
representação de um helicóptero na imagem. Compare nas imagens abaixo a
diferença básica entre a imagem original (manipulada) e outra obtida
aleatoriamente, à direita:
A "cabeça da ave" posiciona-se justamente sobre a
ponta do "helicóptero". Na imagem desfocada, isso causa um efeito
interessante criando a imagem do aparelho. Já na imagem à direita, percebe-se
claramente o prolongamento do que seria o bico do helicóptero, passando por
trás da ave.
O segundo aspecto que influi na fama destas figuras é a
precipitação por parte de alguns pesquisadores que primeiro a divulgaram.
Aparentemente não houve uma checagem sobre a origem, natureza e história destas
figuras e do local onde estão inseridas, muito menos uma tentativa de entender
ou traduzir seu sentido. Apenas divulgou-se como sendo uma prova do uso de alta
tecnologia nos primórdios da história humana. Ainda dentro deste aspecto, a
falta de conhecimento sobre hieróglifos contribuiu para a disseminação dessa
história. Ao contrário do que geralmente se pensa, a escrita hieroglífica não
era apenas ideográfica, ou seja, cada símbolo representando uma idéia distinta.
Na verdade a escrita era uma combinação de três características: fonogramas,
ideogramas e determinativos. A primeira refere-se à símbolos que representavam
um som fundamental, o chamado fonema. Nesse caso, uma determinada imagem era
empregada para representar o som, ao invés de sua representação visual. Um
exemplo bem comum deste tipo é a figura de uma lebre que era usada para
representar o som emitido pela sua pronúncia em egípcio. A segunda
característica refere-se à imagem representada pelo hieróglifo, como por
exemplo o desenho de um determinado animal para representar o próprio animal.
Já os determinativos eram hieróglifos usados para identificar a natureza da
mensagem transmitida. Quando, por exemplo, referiam-se à violência, guerras,
combates, era comum incluírem um símbolo de braço armado, representando a idéia
de violência. Em alguns casos o símbolo poderia representar também alguma coisa
ligada ao hieróglifo apresentado. O ideograma do Sol, por exemplo, poderia
representar luz, dia, pôr-do-sol, etc. Todos os símbolos eram gerados a partir
de coisas conhecidas e comuns em seu dia a dia. Helicóptero não faziam parte do
cotidiano dos egípcios, caso contrário haveriam hieróglifos específicos para
representá-los e haveriam incontáveis registros históricos a respeito. E como
sabemos não é esse o caso.
Outro ponto fundamental que contribuiu com a disseminação
das imagens é o elo comum à todos aqueles ligados à área de Ufologia, sejam
eles ufólogos, testemunhas ou apenas interessados no tema, que é a esperança
pela prova definitiva. A prova incontestável que confirme a realidade das
visitas extraterrestres ao nosso planeta. Essa busca obsessiva por provas e
fundamentações para determinadas teorias leva alguns pesquisadores a ignorarem
ou omitirem certos detalhes, em seus objetos de estudo. O Caso de Abydos, por
exemplo, fortalece, num primeiro momento, a Teoria do Deuses Astronautas. Quem
é partidário dessa teoria, em seu contato inicial com a fotografia
(manipulada), não vai buscar a veracidade da imagem. A fotografia, por seu
caráter extraordinário, será logo aceita e repassada como prova histórica à
favor da Teoria à qual defende.
Do lado do ufófilo, ou seja o interessado que não chega a
realizar a pesquisa ufológica propriamente dita, existe a necessidade de
acreditar. Isso decorre do constante assédio do meio cético, que embora não
abale a certeza destes interessados os leva, indiretamente, a aceitar mais
facilmente aquilo que tenha um certo respaldo científico, governamental ou
social. A figura de Abydos enquadra-se bem nesse aspecto, pois ele tem o respaldo
arqueológico e social comprovando que elas existem de fato mais ou menos da
forma como é apresentado. Então, ao invés de checar a veracidade da figura
repassa-se a informação como autêntica, fortalecendo suas convicções perante o
ceticismo que o cerca.
Encarar a pesquisa ufológica com seriedade e objetividade,
sem se deixar levar pelas pressões de céticos e detratores é requisito
essencial para o crescimento da Ufologia. Aliado à isso, uma nova postura na
busca de informações reais que fundamentem uma pesquisa, o uso de metodologias
específicas, de acordo com o meio científico, e o intercâmbio de informações só
tendem a melhorar a imagem da Ufologia perante a opinião pública. Agora a
questão é: conseguiremos isso? Fica em aberto o debate... fonte: Fenomenum
Pois é talvez essa matéria lhe tire de sua posição de conforto, bom é com você que deseja acreditar em um mundo pintado por alguns, que vendem a verdade absoluta nos velhos moldes bitolantes. Iron Tec
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