Finalmente decifrado o código do Manuscrito de Voynich
O acadêmico Dr. Gerard Cheshire, da Universidade de Bristol (Reino Unido), realizou a façanha de desvendar o misterioso Manuscrito de Voynich, um dos documentos mais intrigantes da história. O texto, que todos pensavam estar escrito em algum tipo de código complexo, já havia vencido inúmeros criptógrafos, linguísticos eruditos e até programas de computador.
Depois de iludir os estudiosos por mais de um século, Cheshire resolveu o enigma em duas semanas usando uma combinação de pensamento lateral e engenhosidade para identificar a linguagem e o sistema de escrita do famoso documento.
Cheshire explica que teve uma série de momentos “Eureca!” enquanto decifrava o código, seguida por um sentimento de espanto e empolgação quando percebeu a magnitude da conquista, tanto em termos de sua importância linguística quanto pela revelação sobre a origem e conteúdo do manuscrito.
Esse trecho exibe a palavra “palina”, nome de uma vara para medir a profundidade da água, às vezes chamada de haste ou régua.
“O que o documento revela é ainda mais surpreendente do que os mitos e fantasias que gerou. Por exemplo, o manuscrito foi compilado por freiras dominicanas como fonte de referência para Maria de Castela, Rainha de Aragão, que por acaso foi tia-avó de Catarina de Aragão”, esclarece o acadêmico. Catarina foi uma princesa espanhola e primeira rainha de Henrique VIII da Inglaterra.
Também não é exagero dizer que esse trabalho representa um dos desenvolvimentos mais importantes até hoje na linguística românica. Isso porque Cheshire descobriu que o manuscrito está escrito em “proto-romance”, o ancestral das línguas românicas de hoje, incluindo português, espanhol, francês, italiano, romeno, catalão e galego.
“A língua usada no manuscrito [o proto-romance] era onipresente no Mediterrâneo durante o período medieval, mas era raramente utilizada em documentos oficiais ou importantes, porque o latim era a língua da realeza, igreja e governo. Como resultado, registros escritos do proto-romance estavam perdidos, até agora”, explica Chesire.
Esse trecho mostra duas mulheres dando banho em cinco crianças. As palavras descrevem diferentes temperamentos/sentimentos: “tozosr” (significa algo como “muito barulhento”); “orla la” (algo como “perdendo a paciência”, “no limite”); “tolora” (algo como “bobo”, “tolo”); “noror” (algo como “triste”, “opaco”); “aus” (algo como “bem comportado”); e “oleios” (algo como “escorregadio”). Algumas dessas palavras sobreviveram em línguas atuais, como catalão (tozos e aus), português (orla e oleio) e romeno (noros). A expressão “orla la” descreve o humor da mulher à esquerda e pode muito bem ser a raiz da expressão francesa “oh là là”, que revela um sentimento semelhante.
Então é por isso que o manuscrito é tão incomum – ele usa uma linguagem extinta. Seu alfabeto é uma combinação de símbolos desconhecidos e outros mais familiares. Além disso, o texto “não inclui sinais de pontuação, embora algumas letras possuam variantes de símbolo para indicar pontuação ou acentos fonéticos. Todas as letras estão em minúscula e não há consoantes duplas. A escrita inclui ditongos, tritongos, quadritongos e até quintotongos para a abreviação de componentes fonéticos. Também inclui algumas palavras e abreviações em latim”, detalha Cheshire.
A ilustração A mostra um vulcão em erupção que levou a uma missão de resgate. Ele subiu do fundo do mar e criou uma nova ilha, com o nome de Vulcanello, que mais tarde se uniu à ilha de Vulcano após outra erupção em 1550. A ilustração B mostra o vulcão de Ischia, a C mostra a ilhota de Castello Aragonese e a D representa a ilha de Lipari. Cada ilustração inclui uma combinação de imagens e anotações com detalhes.
O próximo passo é usar esse conhecimento para traduzir o manuscrito inteiro e compilar um léxico, coisa que Cheshire reconhece que levará algum tempo e precisará de financiamento, pois o documento compreende mais de 200 páginas.
“Agora que o idioma e o sistema de escrita foram explicados, as páginas do manuscrito estão abertas para os estudiosos explorarem e revelarem, pela primeira vez, seu verdadeiro conteúdo linguístico e informativo”, conclui o pesquisador.
O artigo que relata sua descoberta foi publicado na revista científica Romance Studies.
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