A polícia britânica prendeu nesta quinta-feira o cofundador do site de vazamentos de dados sigilosos WikiLeaks, Julian Assange, em um novo capítulo da história do ativista.
As revelações de maior destaque feitas por Assange mostravam detalhes pouco conhecidos da atuação dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque. Segundo os documentos, soldados americanos são acusados de atacar e matar homens, mulheres e crianças que não tinham relação direta com os conflitos.
Assange foi preso na embaixada do Equador em Londres, onde ficou asilado durante sete anos para evitar ser extraditado para os EUA.
Ele enfrentava acusações de abuso sexual na Suécia, que posteriormente foram arquivadas, e também temia ser enviado aos Estados Unidos, onde vê o risco de ser julgado pelos vazamentos de dados.
Sua prisão agora estaria realacionada ao fato de ele não ter se apresentado à Justiça britânica. Ele foi considerado culpado pelo Tribunal de Westminster, em Londres, nesta quinta-feira sob essa acusação.
Risco de extradição
Assange agora enfrenta acusações de conspiração federal dos EUA relacionadas a um dos maiores vazamentos de segredos de Estado da história.
O Reino Unido vai decidir se vai extraditá-lo, em resposta a alegações do Departamento de Justiça de que ele conspirou com a então analista de inteligência dos EUA Chelsea Manning para baixar quatro bancos de dados confidenciais do Exército americano.
O ativista pode pegar até cinco anos de prisão nos EUA se for condenado por conspiração para invadir computadores.
A advogada dele, Jennifer Robinson, disse que eles vão lutar contra o pedido de extradição. Ela disse que o que ocorreu estabelecia um "precedente perigoso", pelo qual qualquer jornalista poderia enfrentar acusações dos EUA por "publicar informações verdadeiras".
Inicialmente, acreditava-se que a prisão não estaria relacionada aos vazamentos, mas às acusações de abuso sexual feitas por duas mulheres contra ele na Suécia - Assange afirmava que as acusações seriam uma invenção no contexto de uma "caça às bruxas" orquestrada pelos EUA contra o WikiLeaks. Ele também teria violado as leis dos Estados Unidos ao publicar documentos secretos do governo americano.
O ativista havia se refugiado na embaixada para evitar a extradição para a Suécia ou, ainda, para os Estados Unidos, mas acabou surpreendido com a suspensão do asilo.
'Violações'
A prisão ocorre um dia após o WikiLeaks ter anunciado que havia descoberto uma operação de espionagem das atividades de Assange na embaixada do Equador.
O atual presidente do Equador, Lenín Moreno, vinha limitando as ações permitidas a Assange no interior da representação diplomática.
Segundo o correspondente da BBC James Landale as autoridades equatorianas já tinham vetado o acesso à internet a Julian Assange e tinham acusado o cofundador do Wikileaks de estar desenvolvendo atividade política, o que não é permitido àqueles que têm o pedido de asilo atentido.
O presidente do Equador disse que retirou o asilo de Assange depois de ele ter violado repetidamente regras internacionais. O governo também suspendeu a cidadania equatoriana concedida ao ativista.
Em vídeo publicado em sua conta no Twitter, Lenín Moreno, disse que a conduta de Assange era "desrespeitosa e agressiva". Moreno acrescentou que o WikiLeaks publicou declarações "hostis e ameaçadoras".
O ex-presidente do Equador Rafael Correa, que atendeu em 2012 ao pedido de asilo feito por Assange, criticou a decisão.
"Lenín Moreno [...] revelou ao mundo sua miséria humana, entregando Julian Assange à polícia britânica - não somente um asilado, como também um cidadão equatoriano", disse Correa.
Para o ex-presidente, a decisão de entregar Assange à polícia britânica "põe em risco a vida dele e representa uma humilhação para o Equador".
O WikiLeaks, por sua vez, tuitou que o governo do Equador agiu ilegalmente ao encerrar o asilo político de Assange "em violação do direito internacional".
O secretário de Estado para Assuntos Internos do Reino Unido, Sajid Javid, confirmou, também via Twitter, a prisão de Assange: "Posso confirmar que Julian Assange está agora sob custódia da polícia e vai responder à Justiça no Reino Unido. Gostaria de agradecer ao Equador por sua cooperação e à polícia por seu profissionalismo. Ninguém está acima da lei."
Assange tem 47 anos e havia se recusado a deixar a embaixada, alegando que seria extraditado para os Estados Unidos para interrogatório sobre as atividades do WikiLeaks.
Figura controversa ou alguém que falou a verdade?
Para seus apoiadores, Julian Assange é um corajoso defensor da verdade. Para seus críticos, ele é alguém que busca publicidade e que pôs vidas em risco ao tornar público um grande volume de informações confidenciais.
Assange é descrito por ex-colaboradores como intenso, motivado e altamente inteligente - com uma capacidade excepcional de decifrar códigos de computador.
Ele criou o WikiLeaks, que publica documentos e imagens confidenciais, em 2006 - ganhando manchetes em todo o mundo em abril de 2010, quando divulgou imagens de um vídeo mostrando soldados dos Estados Unidos matando 18 civis no Iraque. Eles atiravam do alto de um helicóptero.
No final daquele ano, no entanto, Assange acabou detido no Reino Unido após a Suécia emitir um mandado de prisão internacional por denúncias de abuso sexual contra ele.
As autoridades suecas queriam interrogá-lo sobre denúncias apresentadas por duas mulheres no país. Uma o acusava de estupro. A outra, de que ele a havia molestado e coagido sexualmente em agosto de 2010, quando esteve em Estocolmo como convidado para dar uma palestra. Ele diz que os dois encontros foram totalmente consensuais. Fonte: www.bbc.com
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