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sábado, 20 de abril de 2019

Gás natural veicular (GNV) emite poluição na atmosfera próximo da gasolina




Vendido pela publicidade como um combustível limpo, o gás natural veicular (GNV) não apenas tem emissões muito próximas às da gasolina comum (em carros fabricados a partir de 1997) como pode poluir até oito vezes mais se não for usado em kits homologados pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis).

Mas, como não há fiscalização e os kits irregulares são bem mais baratos, as estimativas mais otimistas -da indústria automobilística e do Ibama- indicam que 1/3 da frota de passeio a gás -680 mil veículos no país, podendo chegar a 1 milhão neste ano- não usa aparelhos de conversão testados e autorizados pelo governo.
Como a resolução que obriga os equipamentos a passarem pelo crivo do Ibama só foi publicada em 2002 e começou a valer mesmo no segundo semestre do ano passado, os kits vendidos antes disso podem estar inadequados.

Isso significa até 450 mil carros poluindo mais do que prevê a legislação do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), levando-se em conta apenas os veículos convertidos para gás até 2002.
O impacto só não é pior porque os carros fabricados até 97 poluíam bem mais, pois não tinham injeção eletrônica. Nesses casos, mesmo um kit de gás não-homologado representou um ganho ambiental. Não há, porém, dados da idade da frota a gás.

Hoje já há a obrigatoriedade da venda apenas dos kits "ambientalmente corretos" -que tenham o CAGN (Certificado Ambiental para Uso do Gás Natural em Veículos Automotores)-, mas o controle do cumprimento da regra é precário, para não dizer inexistente. Tanto é assim que das cerca de 40 empresas que vendem equipamentos para conversão no Brasil, segundo a ABgnv (Associação Brasileira do Gás Natural Veicular), só 22 têm o CAGN.

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Como os veículos convertidos para o gás se concentram nos grandes centros urbanos, a exemplo do Rio de Janeiro (38,1% da frota) e de São Paulo (26,3%), a irregularidade ambiental representa um incremento nos já graves problemas de poluição atmosférica, que causa danos à saúde e à vegetação e é um dos principais indicadores de qualidade de vida.
"Costumo fazer uma alusão simples. Os kits de GNV não-homologados pelo Ibama fazem com a atmosfera o mesmo que bocas de fogão desreguladas fazem com o fundo das panelas: deixam preto", resume Paulo Macedo, coordenador do Proconve.

Tecnologia no lixo

A explicação para a maior poluição dos kits não-homologados está no fato de eles anularem toda a tecnologia que as montadoras de automóveis tiveram de incorporar a partir de 97, por determinação do Ibama, para reduzir as emissões, afirma Renato Linke, gerente do setor de engenharia automotiva e certificação da Cetesb (agência ambiental paulista e órgão técnico do Proconve).
Os kits homologados possuem um aparelho chamado módulo de controle e injeção de gás, que faz o controle da injeção de combustível, mas encarece o equipamento em cerca de R$ 700, segundo instaladoras consultadas pela Folha.

Estudos feitos pela Cetesb mostram que um carro a gás com kit não-homologado joga na atmosfera, por quilômetro rodado, duas vezes o CO (monóxido de carbono) emitido pelos carros a gasolina. O poluente é um dos que mais prejudicam as pessoas -principalmente idosos, grávidas, crianças e portadores de doenças cardiovasculares e respiratórias.
No que diz respeito aos hidrocarbonetos e aos óxidos de nitrogênio, esses carros emitem respectivamente três e oito vezes mais que os movidos a gasolina.

Hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio são precursores do ozônio, a substância que mais preocupa as autoridades ambientais das grandes cidades.
O ganho existe apenas no que diz respeito às emissões de gás carbônico (CO2).
Veículos a gás produzem 167 gramas por quilômetro rodado (sejam eles regulares ou irregulares), enquanto os carros a gasolina produzem 194.

Embora não seja tradicionalmente considerado um poluente, o CO2 é um dos principais gases que aumentam o efeito estufa -aquecimento natural da Terra que, se exagerado, pode causar problemas futuros, como degelo das calotas polares e inundações.
Fonte: www1.folha.uol.com.br





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