O reconhecimento facial, como já explicamos em uma
matéria aqui no TecMundo, trabalha basicamente ao detectar um rosto em formas
geométricas e logarítmicas, a função do sistema é montá-lo como em um quebra
cabeça. Entretanto, o software não reconhece pessoas trans e não-binárias;
portanto, como devemos proceder? Infelizmente, quase nunca utilizam esses
grupos para a construção dessas interfaces dificultando ainda mais a
averiguação. Dados apontam que eles são programados para lidas com dois grupos
– masculino e feminino.
Hoje em dia, é mais comum encontrarmos sistemas de
reconhecimento em estabelecimentos como bancos, aeroportos e até mesmo o abrir
de uma porta utilizarem esses serviços, e se você é uma pessoa transsexual ou
não binária, pode ter alguns problemas ao tentar utilizar qualquer um desses
estabelecimentos ou, até mesmo, entrar na sua casa.
Uma falha recorrente é que esses programas identificam
equivocadamente pessoas negras em bancos de dados criminais, enquanto outros
mal conseguem ver rostos negros. A precisão varia de acordo com o sistema, mas,
infelizmente, é um problema que tende a piorar, pois a instalação de sistema
biométrico em aeroportos e a tecnologia de reconhecimento facial se espalha e
logo mais será raro encontrar alguma companhia de aviação que não utilize.
Os Keyes, estudante de doutorado no Laboratório de Ecologia
de Dados do Departamento de Design e Engenharia Centrada em Humanidades da
Universidade de Washington, estuda a intersecção da interação
humano-computador. A descoberta que intriga Keyes, é o reconhecimento
automático de gênero (AGR) ser tão onipresente, deixando de lado indivíduos
trans e não-binários.
Ao ter analisado os últimos 30 anos de pesquisa em
reconhecimento facial, ele relata que ao estudar 58 trabalhos de pesquisas
separados, descobriu alguns dados relevantes, como:
70% lida como se o gênero fosse imutável;
80% trata gênero como puramente fisiológico;
90% seguem padrão binário de gênero.
Keyes afirma em seu artigo que “esses modelos apagam as
pessoas transexuais, excluindo suas preocupações, necessidades e existências. A
sub-representação tem sido recriada no mundo em geral, resultando na
discriminação. O que mais deixa Keyes surpreso é o fato de como pesquisas de
AGR ignoram a existência de trans, sendo excludentes a ponto de apresentar
consequências perigosas”.
O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST) sugeriu
que indivíduos usassem software de reconhecimento facial para soar um alarme em
torno dos banheiros femininos se algum homem se aproximasse, ou seja, a
conclusão que Keyes chega é que a maioria dos trabalhos de AGR não dedicam
tempo para discutir o problema por trás dessa tecnologia. Um dos relatórios
mais perturbadores divulgados pelo NIST é o custo de classificar falsamente um
homem como mulher, permitindo que atividades suspeitas sejam conduzidas, assim
como os defensores de banheiros anti-trans vêm defendendo.
De todos os dados que Keyes usou para sua pesquisa, 3 dos
trabalhos se concentram em pessoas trans, já em não binárias, não encontrou
nada, ou seja, em mais de 30 anos de pesquisas nada foi estudado. Esses números
demonstram tamanho problema e preconceito existente, afinal, as máquinas não
possuem valor neutro, e sim agem conforme forem programadas, e se as pessoas
fora dos “padrões” não aparecerem nesses estudos, significa que estamos falando
sobre a extensão do apagamento trans, afirma Keyes.
Ele reforça que a tecnologia tem que acompanhar as mudanças
humanas, pois somos nós que utilizamos esse tipo de AGR, então ela precisa ser
contextual e orientada pela necessidade e para Keyes, não vê tamanha
relevância. Ele prioriza aulas de ética ao invés de aulas de estudos de gênero
para estudantes dos cursos de ciência da computação que programam sistemas de
reconhecimento facial, fomentando melhoramento pessoal, e não aperfeiçoamento
das máquinas. Fonte: www.tecmundo.com.br
0 comentários:
Postar um comentário