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sexta-feira, 12 de abril de 2019

Os cimérios bárbaros com a história esquecida




Se você quer saber quem realmente foram os cimérios, um conselho: esqueça Conan. Muito antes de Tolkien (autor de "O Senhor dos Anéis"), foi Robert E. Howard um dos primeiros autores a criar um mundo completo de povos, línguas, história e geografia fictícios, com continentes imaginários que surgiram do nada e afundaram novamente entre um cataclismo e outro.

Só pra você ter uma idéia: segundo a cronologia da Era Hiboriana do autor do herói dos quadrinhos, a Atlântida  e a Lemúria  afundaram ao mesmo tempo (!) num só cataclismo. Pior: embora os cimérios fossem notoriamente um povo do Cáucaso, o que restaria da "Ciméria" de Howard acabou formando as Ilhas Britânicas (!) e sumiram. Acho que ele nunca se informou direito sobre os povos bárbaros caucasianos.

Esse é o problema em escrever sobre fatos que se confundiram com a mitologia: às vezes, a lenda atrapalha a História. A ciência da Arqueologia já avançou muito, mas ainda há inúmeros obstáculos talvez intransponíveis.


Em que pese o fato de os grandes guerreiros que entraram em contato com a civilização grega na Era do Bronze nunca se deram ao trabalho de registrar sua própria História (ainda mais quando nem tinham língua escrita), eles tiveram suas "estórias" contadas por seus inimigos. Alguém já disse que a história oficial é sempre a versão contada pelos vencedores?


A Terra de Gomer ou Ciméria. O Livro do Gênesis, capítulo 10, contém uma interessante e controvertida lista de descendentes de Noé, chamada "Posteridade de Noé", através de seus três filhos: "Eis a descendência dos filhos de Noé: Sem, Cam e Jafet. Filhos de Jafet: Gomer, Magog, Madai, Javã, Tubal, Mosos e Tiras." 

Nesta pesquisa, interessa especialmente a linhagem de Jafet, que teve sete filhos, entre os quais Gomer e Javã. Gomer deu seu nome a uma nação, [em Ezequiel 38:6]. "Gomer", segundo os lingüístas, vem do acadiano GIM-IR-[RA-A] - ou Cimir, Cimira. Foram um povo migratório e fizeram sua primeira parição histórica no oeste da Ásia no fim do século VIII a.C..Javã está relacionado o nome tribal grego "Ionia", relativo à costa oeste da Ásia Menor. Eram mercadores e negociavam com os Fenícios de Tiro e da Palestina.

Os filhos de Gomer vieram a ser conhecidos como "Gomarians" ou "Comarians"e, finalmente, "Cimerians". Ocuparam o norte e oeste europeu combatendo sempre até fixarem um núcleo de povoamento entre a Alemanha e a Austria, onde tornaram-se os "Germans" ou germãnicos, enquanto os nômades seguiam para a Rússia onde dominaram as estepes. [GIANTS OF ASIA]

  Muito, muito pouco se sabe a respeito da verdadeira História dos assombrosos guerreiros cimérios. Nos mapas da região registrados até o século XVIII pelos cartógrafos ingleses, o estreito de Bósforo ainda era chamado de Cimmerian Bosphorus ou Ponto Cimmerian("Mar Cimeriano").

Os Cimérios (em grego Κιμμέριοι, Kimmérioi) foram bárbaros nômades eqüestres que, de acordo com Heródoto, viviam originalmente na região norte do Cáucaso e no Mar Negro - atuais Rússia e Ucrânia - quando travaram contato (brutalíssimo) com a civilização mediterrânea-mesopotâmica nos séculos VIII e VII a.C. Registros assírios, todavia, determinam que esse povo se localizava no atual Azerbaijão em 714 a.C.

Os Cimérios, Citas, Albanianos, Gargários e Amazonas eram algumas das vários tribos que habitavam a região em volta da Cordilheira do Cáucaso, a Sarmátia, entre a Europa e a Ásia; e causaram tamanho espanto com suas diferenças físicas e culturais, a ponto de serem integrados ás lendas da mitologia grega - junto com seres fantásticos como os centauros, ninfas, deuses e minotauros. Foi nessa "companhia" tão confiável que eles acabaram sendo considerados também meras criaturas de ficção.

Suas origens são obscuras, mas acredita-se que eram Indo-Europeus. Sua língua é geralmente tida como "o elo perdido" entre a língua trácia (junto a leste da Grécia) e o persa. Se foram realmente um povo pré-histórico, eles eram o elo perdido de muita coisa entre as culturas Ocidental-Oriental. No começo do século XX os cimérios costumavam ser associados aos Proto-Indo-Europeus ("Arianos" ou "Jafetitas").


  Arqueólogos turcos pretendem provar a existência dos Cimérios [ou cimerianos], um dos mais antigos povos europeus. A "terra de Conan", o bárbaro, ainda é um motivo de debate entre os cientistas. Existem referências de um antigo e místico país no trabalhos de Homer e Herótodo e em tabuletas assírias encontradas na Mesopotâmia. Segundo estas fontes, os cimérios são originários da Ásia Menos do 8º século antes de Cristo. Alguns acreditam que foram os primeiros povoadores da Rússia.

Entre os primeiros povos que ocuparam a Europa os Cimérios se destacam por sua cultura e seus feitos enquanto dominaram as estepes no extremo sul do território da atual Rússia. Sua civilização pertenceu ao fim da Idade do Bronze. Suas origens obscuras parecem associá-los ora aos Trácios, ora aos Parses, do atual Irã já há cinco mil anos antes de Cristo. Os cimérios estão associados aos cavalos de modo tão estreito que seus homens foram, muito possivelmente, a origem do mito do centauro, quando as hordas de guerreiros foram vistas pela primeira vez em suas montarias em lugares onde os cavalos ainda não tinham sido domesticados.

Por enquanto, sabe-se que aquele povo se instalou por um século em Antandrosis, uma antiga cidade a noroeste da atual Turquia. Com os avanços das escavações arqueológicas no local, é possível encontrar evidências da ocupação ciméria. Os pesquisadores adiantam que, em futuro próximo, Antandorsis pode se tornar uma segunda Ephesus em termos de importância histórica.

 Nos mapas das migrações de tribos nômades, os cimérios povoaram a Europa e se tornaram os celtas. Arqueologicamente muito pouco se sabe dos cimérios da costa norte do Mar Negro.

Foi sugerido que possam ter compreendido a tão-chamada "cultura catacúmbica" do sul da Rússia, aparentemente expulsa pela "cultura das urnas funerárias" que avançara a partir do oriente mais além. Isso está de acordo com o relato grego de como os cimérios foram substituídos pelos citas. Algumas estelas de pedra encontradas na Ucrânia e no norte do Cáucaso tiveram sua origem ligada à civilização ciméria.

Na mitologia grega, a Ciméria era vizinha da Terra dos Mortos. Porque aqueles bárbaros sempre foram um povo tão sombrio? O historiador grego Heródoto (485-420 a.C.) já descrevia aquela região como "inóspita, intimidadora, sempre à sombra das montanhas e com o céu coberto de neblina; um lugar onde só os extremamente fortes sobrevivem; uma terra de trevas e noite eterna. Um local melancólico com florestas negras, silêncio sombrio e um céu turvo e nuvens de chumbo.

 Eis como Homero nos apresenta a terra do povo de Conan:

Aí fica o país e a cidade dos homens da Ciméria.
Estes tateiam continuamente na noite e no nevoeiro, e nunca
olha para eles radioso o deus do sol luminoso.
Mas é a terrível noite que envolve os miseráveis humanos.
HOMERO, Odisséia, XI. 14-19.

 É esta passagem que Ephorus aplica aos cimérios no próprio tempo em que foram estabelecidos na península da Criméia, e que explica seu ditado que eles eram uma raça de mineiros, vivendo perpetuamente no subterrâneo. (Daí a associação com o Mundo dos Mortos).
O que nos leva de volta ao artigo sobre suas vizinhas (e parentes) amazonas: os arianos do Cáucaso pareciam cultuar Ares como um deus central, tornando-se Mestres da Guerra praticamente invencíveis, com a fama de serem guerreiros perfeitos.

Como nunca se bronzeavam, também eram pálidos como defuntos. Eram descritos como indivíduos "de pele branca como a neve, olhos cinzentos, de mulheres e homens altos, medindo entre 2 m e 2,20 metros, extremamente musculosos, arrogantes, corajosos e muito, muito fortes mesmo".

Sua terra era a grande Cordilheira do Cáucaso, próxima ao Mar Negro, região hoje ocupada por Armênia, Azerbaijão, Geórgia e Rússia. Há 5500 anos, aquela área ainda era um celeiro (melhor seria dizer vespeiro) de povos bárbaros tão primitivos que nem tinham língua escrita, vivendo principalmente da caça, em culturas matriarcais.

Havia tribos com soldados homens e mulheres. Os antigos gregos chamavam o sistema deles de "Ginocracia" (sociedade regida por mulheres). Inventaram o machado de guerra, arma de dois gumes iguais, usado por homens e mulheres, representando a igualdade.

Fora isso, tudo o que resta são as impressões visuais: ligados à Natureza, eles usavam os famosos capacetes com chifres; as armas eram presas às costas; mestres da cavalaria, dos povos "domadores de cavalos" montanheses, habitavam cabanas de madeira e pedra também nas florestas e nos pântanos; e odiavam o sol, só saindo à noite e passavam o dia vivendo em catacumbas interligadas por túneis.  

Eis aqui a marca registrada dos cimérios, que tanto os distinguia; a "cultura das catacumbas" sem dar a mínima para o mundo exterior. Eis porque os caucasianos foram os últimos povos a saberem do Grande Dilúvio Universal, que traumatizou os outros povos e deu origem às religiões dos povos civilizados: enquanto a chuva caía e milhões morriam afogados,os cimérios provavelmente passaram os 40 dias e noites bebendo cerveja nas catacumbas.

Existe a teoria que os cimérios foram "os primeiros brancos" que deram origem à etnia caucasiana. Sendo um povo tão antigo e pré-histórico, sem contato com os raios do sol por milênios, eles poderiam ter dado início à mutação genética da ausência de melanina (ou "anomalia" da falta de pigmentos na pele, se assim preferirem). E, sim: eles DESPREZAVAM a Civilização - "corrupta, decadente, imunda, podre, imoral, opressora, escravista e envenenada pela prática da magia."

O primeiro registro histórico dos cimérios aparece nos anais da Assíria no ano 714 a.C. Eles descrevem como um povo chamado Gimirri ajudou as forças de Sargão II a derrotar o reino de Urartu. Sua terra original, chamada Gamir ou Uishdish, parece ter sido localizada no Estado-tampão de Mannai. O geógrafo posterior Ptolomeu colocou a cidade de Gomara nessa região.

Alguns autores modernos afirmam que os cimérios incluíam mercenários, chamados pelos assírios de Khumri, restabelecidos na região por Sargão. Contudo, gregos de épocas posteriores sustentam que os cimérios, antes disso, haviam vivido nas estepes entre os rios Tyras (Dniester) e Tanais (Don).

Homero os descreve em seu livro 11 da Odisséia como habitantes de terras enevoadas e de trevas nos limites do mundo, às margens de Oceanus. Vários reis cimérios são mencionados em fontes gregas e mesopotâmica, incluindo Tugdamme (Lygdamis em grego) e Sandakhshatra (final do século VII a.C.)

De acordo com as Histórias de Heródoto (c. 440 a.C.), os cimérios haviam, em determinado ponto do passado, sido expulsos das estepes pelos citas. Para garantir seu enterro na pátria de seus ancestrais, os membros da família real ciméria dividiram-se em grupos e lutaram entre si até a morte.

Os camponeses cimérios enterraram os corpos ao largo do rio Tyras e, através do Cáucaso, fugiram do avanço cítico, adentrando a Anatólia e o Oriente Próximo. O percurso total parece ter se estendido desde Mannai, perpassando, ao leste, as terras médicas da cordilheira de Zagros, e ao sul da área até o Elam.

 Migrações

As migrações dos cimérios foram registradas pelos assírios, cujo rei, Sargão II, morreu em batalha contra os próprios cimérios em 705 a.C. E foram os assírios que trouxeram os cimérios à Mesopotâmia: exatamente como os grandes bárbaros destruidores de cidades mesopotâmicas. E foi assim que o bom e ilustre povo cimério fez sua estréia na História: exercendo sua profissão por excelência, como "ladrão, pirata e mercenário."

Subseqüentemente, os registros sobre esse povo apontam sua conquista sobre a Frígia em 696 a.C., o que levou o rei frígio Midas a ingerir veneno como recusa a ser capturado. Em 679 a.C., durante o reino de Assarhaddon da Assíria, os cimérios atacaram a Cilícia e o Tabal sob o comando do novo líder, Teushpa. Assarhaddon, contudo, os derrotou próximo a Hubushna (inconclusivamente identificada com a moderna Capadócia, Ásia Menor).

Em 654 a.C. os cimérios atacaram o reino da Lídia, assassinando o rei Giges e causando grande destruição à capital lídia, Sardes. Retornaram dez anos depois durante o reino do filho de Giges, Ardis II, e desta vez capturaram a cidade inteira, com exceção da cidadela. A queda de Sardes afetou decisivamente os poderes da região; os poetas gregos Calino e Arquíloco registraram o medo que tomou conta das colônias gregas na Jônia, algumas das quais foram atacadas por salteadores cimérios.

Contudo, a ocupação ciméria da Lídia foi breve - possivelmente devido ao surto epidêmico da praga. Entre 637 a.C. e 626 a.C. os conquistadores foram derrotados por Aliates II da Lídia. A derrota marcou o fim definitivo do poder cimério.

O termo "Gimirri" ainda foi usado um século depois na inscrição Behistun (c. 515 a.C.) como equivalente babilônico do termo persa Saka ("citas"), mas, com exceção disso, nunca mais se ouviu falar dos cimérios na Ásia, e o destino final desse povo é incerto. Foi-se especulado que se estabeleceram na Capadócia, conhecidos em armênio como Gamir (mesmo nome da pátria ciméria original em Mannai). Contudo, certas tradições francas terminariam por definir sua localização na boca do Danúbio (ver Sicambre).
   
Trácia & Cítia

Acredita-se que há certo número de ramificações com origem nos cimérios. Os trácios foram identificados como um possível ramo ocidental daquele povo. Se Heródoto estiver correto, ambos os povos originalmente habitaram a costa norte do Mar Negro, e ambos foram forçados a deixar a área ao mesmo tempo devido a invasores vindos do leste. Os cimérios haveriam abandonado sua pátria ancestral rumo ao leste e ao sul, através do Cáucaso.

Apesar de que os cimérios de que se tem conhecimento via registros históricos têm seu lugar história por um curto período de tempo (século VII a.C) diversos povos celtas e germânicos mantêm a tradição de serem descendentes dos cimérios ou dos citas, e alguns de seus nomes étnicos parecem corroborar a crença (p.ex. Cymru, Cwmry ou Cumbria, Cimbre).

A etimologia de Cymru (termo galês para o País de Gales) e de Cwmry (Cumbria), que, de acordo com a tradição galesa, deriva diretamente de "cimérios", é considerada, por uma outra corrente, como provinda do celta kom-broges, que significa "compatriotas". No que diz respeito à tribo Cimbre, não se sabe ao certo se eram celtas, germânicos ou se algum outro povo, provindo dum grupo Indo-Europeu Ocidental anterior conectado aos ligurianos.

Além disso, os reis Merovíngios dos francos tradicionalmente traçavam sua linhagem, passando por uma tribo pré-franca chamada Sicambre, chegando, fundamentalmente, a um grupo de "cimérios" que viviam na boca do rio Danúbio.

Se os citas realmente mantêm parentesco com os cimérios, como foi freqüentemente exposto, muitos outros povos que reivindicam descendência cítica poderiam ser adicionados à lista. A associação dos cimérios a uma das Tribos Perdidas de Israel também desempenhou certo papel no Israelismo Britânico.

Religião

 Tudo aponta para o fato que, como todos os povos da região, não tinha uma religião desenvolvida em deuses, sendo um povo tão primitivo que ainda cultuava as forças mais elementares do Universo; assim, o cimério rezava para a Terra, o Sol, a Lua e outros astros.
Mas contatos posteriores com outras culturas no século VII a.C. poderiam levar a uma espécie de representação divina na idéia de um deus único. Isso, porém, já é mera tautologia, quando não mito mesmo. É ele quem coloca a força necessária para se lutar e matar num homem quando ele nasce. "O que mais devem os homens pedir aos deuses?"

CROM


Ao norte do continente, situava-se a Ciméria, uma região tenebrosa, repleta de montanhas cobertas por densas florestas, cujo céu era sempre cinzento e governado por deuses obscuros. No mais alto de todos os montes achava-se Crom, a severa divindade que controlava os destinos e decretava as mortes. Nenhum cimério tinha por costume suplicar algo a Crom, pois ele era lúgubre, selvagem e odiava os fracos.
Apesar de ser o deus mais importante do reino, haviam outros, com menos seguidores, mas também adorados. Entre estes, nós podemos citar Lir, seu filho Mannanan, a deusa guerreira Morrigan, seus subordinados Badb (a fúria da batalha), Nemain (o venenoso) e Macha.

A visão da vida e da morte, para os cimérios, era tão triste quanto sua terra e seus deuses. Em sua concepção, não existia esperança nem no presente, nem no futuro, pois eles tinham plena convicção de que os homens lutavam e sofriam em vão, encontrando prazer somente na loucura da batalha. Morrendo, suas almas penetravam em um reino escuro, frio e enevoado, onde vagariam por toda a eternidade.

Não é de se espantar que Crom fosse o deus de uma raça autoconfiante, cujas únicas ambições eram lutar pela sobrevivência e empenhar-se em tantos combates quanto possível. Isso sim é que é existencialismo punk-gótico: "não existia esperança nem no presente, nem no futuro". "os homens lutavam e sofriam em vão". "suas almas penetravam em um reino escuro, frio e enevoado". Mais depressivo e pessimista, impossível ― ou realista.

 Epílogo 

"Para lá se dirigiu Conan, o cimério, de cabelos negros, olhos ferozes, espada na mão; um ladrão, um saqueador, um matador, com gigantescas crises de melancolia e não menores fases de alegria, que humilhou sob seus pés os frágeis tronos da Terra. Nas veias de Conan corria o sangue da antiga Atlântida, engolida oitocentos anos antes de sua época pelos mares."

Porque as "gigantescas crises de melancolia"? Era Conan um maníaco-depressivo? Talvez sim. Talvez não. Mas seu criador era. Quando Robert E. Howard (1906-1936 FIG. abaixo) começou a aparecer, trouxe em sua obra um realismo muito maior do que o de qualquer um de seus precursores. Sua visão de pré-história não era romântica, mas amargamente realista. O sangue parece escorrer de suas histórias.

Howard cometeu suicídio aos 30 anos. Desde criança, sua mãe era a única pessoa que o apoiara emocionalmente. Sua extrema dependência emocional da figura materna, mais a melancolia, foi o que o levou a se identificar tanto com seu austero personagem guerreiro de uma cultura matriarcal?

O autor do herói dos quadrinhos era uma pessoa assombrada pela idéia de ser espancado por estranhos, como os colegas de escola que o ridicularizavam pelo físico franzino. Daí porque Howard se tornou um fisiculturista, talvez o escritor mais forte e musculoso que já existiu. Só andava de botas, com roupas justas, e armado, pronto para o combate a qualquer momento. Uma batalha que nunca veio. Ironicamente, o homem obcecado pela luta acabou perdendo o confronto contra si mesmo.


  Ao saber da morte iminente da mãe, a guerra para ele acabou. Foi ao seu carro no estacionamento do hospital, dirigiu até um canto afastado da estrada, engatilhou sua espingarda até a cabeça, com a mesma mão que usava para escrever páginas sanguinolentas, puxou o dedo e estourou os miolos.

Do Cáucaso á Inglaterra, dos cimérios aos celtas, do gótico ao heavy metal, toda a simbologia hiboriana atravessou os milênios intacta: as aventuras épicas, o sensualismo, a melancolia, a depressão, as roupas pretas, as fortes personalidades femininas, a relação ambígua com a magia. Nada se perdeu: desde o último cataclismo, o mundo se transformou muito, mas o ser humano permanece o mesmo. Como dizem os civilizados e refinadíssimos franceses (descendentes dos gauleses, que dizem ter vindo dos cimérios): "quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam na mesma." Mas isso já é outra história...
Fonte: sofadasala.com










  


  




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